terça-feira, 31 de julho de 2007

O PAN QUE VALEU A PENA




Falar se o PAN é bom ou ruim, se foi certo ou errado, é um dualismo por onde não delineio meu pensamento. Criticá-lo, simplesmente, é tarefa fácil, pois de fato houve erros de planejamento e execução deste projeto. Elogiá-lo é entender os benefícios muitas vezes abstratos que eventos deste porte têm capacidade de gerar.

A maior parte da crítica é dirigida ao que foi prometido e não foi cumprido pelos Organizadores dos Jogos. Promessas como a criação de uma nova linha de metrô, limpeza e drenagem da Baía de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas. Todas as críticas são pertinentes, mas não são o bastante para tripudiarmos em cima dos Jogos Pan-americanos.

Ao sediar os Jogos, o Rio de Janeiro abriu para si e para demais cidades brasileiras o potencial do esporte e o retorno que um investimento neste setor é capaz de gerar. Com o legado do PAN, o Rio sediará ainda em 2007 os mundiais de nado sincronizado, judô e badminton. Todas essas modalidades ainda pouco conhecidas pelos brasileiros.
Sediar eventos esportivos tende a incentivar a prática de modalidades diversas, o que acarreta em outros benefícios intangíveis como redução de criminalidade e melhoramento de índices de saúde. Logo, uma das heranças é despertar o interesse do público para a prática de modalidades comercialmente pouco exploradas. Nos Jogos Pan-americanos, o público compareceu para assistir do levantamento de peso à ginástica;. do boxe ao salto ornamental; da ginástica rítmica à esgrima.

Há quem diga que os Jogos Pan-americanos foram bancados pelos pobres para entreter a classe média. Auto-engano. Quem compareceu às diversas instalações do PAN viu que havia todo tipo de gente, de diversas cidades do Brasil. Esse retrato não se limitou às torcidas. Espalhados nas arquibancadas, nos corredores internos dos locais de competição e nas ruas estavam os voluntários; eles deram um show de cidadania, de boa vontade, de espírito olímpico. Voluntários que também vieram de todos os cantos do Brasil e de diversas classes sociais. Nosso país não tem uma cultura forte de voluntariado e o PAN nos deixa mais este legado: a importância do voluntariado e a oportunidade igual a todos de fazer parte e aprender com diversos tipos de trabalho ligados aos Jogos. Foi um trabalho de formação de jovens e de integração de jovens, adultos e idosos.

O legado físico do PAN são as estruturas construídas ou reformadas: arena multiuso, velódromo, parque aquático, Maracanãzinho... Caberá a nós cobrar que essas instalações sejam utilizadas para a formação de novos talentos, afinal, tudo isso não foi construído apenas para sediar alguns poucos eventos ao longo do ano. Não é possível permitir, por exemplo, que se cumpra proposta do Governador Sergio Cabral de demolir o antigo Parque Aquático para construir um shopping, pois quanto mais estrutura de boa qualidade, melhor para nossos formadores de novos talentos. Também devemos ficar em cima da Prefeitura, cujo titular César Maia já espalhou outdoors pela cidade assumindo paternidade das obras mas que não tem até agora um planejamento para como usufruir e explorar essas instalações.

Tenho a esperança de que, com o sucesso do PAN do Rio, outras cidades como Porto Alegre, Curitiba, entre outras cidades com instalações de ponta pleiteiem sediar eventos de grande porte. Sediar um PAN não credencia ninguém a receber uma Olimpíada automaticamente. Sediar o PAN também não resolve os problemas de ninguém, principalmente quando estes são de cunho estrutural, conseqüência de um déficit de políticas públicas histórico. Imaginar que nenhuma cidade deveria sediar um evento deste tipo até ter seus problemas solucionados é um equívoco, tanto que o Rio o fez e crescerá com isso.

Fiquei com uma percepção ao longo desses 17 dias de Jogos que o povo brasileiro é muito mal-educado. No final do PAN acho que mais do que mal-educados, somos imaturos. Não sabemos receber outros países em evento esportivo, acho que devido à cultura clubística e suas rivalidades irracionais, além do fato de nunca termos recebido outros países para uma competição desse tipo. As vaias freqüentes são um retrato da imaturidade do brasileiro em receber esse tipo de evento. Tanto que, ao final do evento as vaias já foram menos freqüentes. Se o processo de amadurecimento de um povo se atinge de dentro pra fora ou de fora pra dentro é como buscarmos a resposta sobre quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. O importante é buscarmos oferecer a nossa população esse entretenimento esportivo, pois ele mexe com todas as classes sociais, ele conquista crianças e adolescentes, mexe com diversos setores da economia e traz a tona o debate sobre a importância de se investir em esporte.

O superfaturamento que houve no Rio, haveria em qualquer outra cidade do Brasil. A experiência em realizar grandes projetos capacitará novos profissionais, cidadãos e o poder público a melhor fiscalizar esse tipo de obra e a cobrar que medidas sejam tomadas.

sábado, 28 de julho de 2007

PANdemônio ou PANacéia? Que tal PANaquice...


Eu me lembro de ter lido a declaração de um membro do COI sobre a candidatura Rio 2004, nos anos 90. Em tom crítico, ele falou algo nessa linha: trata-se de buscar uma cidade para as olimpíadas, não as olimpíadas para uma cidade.

Vendo o Pan-07, fica claro o que ele queria dizer. O evento foi vendido (literalmente) para a sociedade brasileira como a panacéia que iria resolver os problemas da cidade... mais um pouquinho, e era do país inteiro!

Os argumentos dos defensores são bastante emocionais, para não dizer irracionais. “O Rio é a cara do Brasil”, “a cidade tem muitos hotéis”, “a paisagem é linda”. Francamente, beiram o desvairio. O problema desses argumentos é que a realidade, ora bolas!, insiste em se impor.

O Rio é, afinal de contas, uma das cidades mais problemáticas do Brasil e das Américas. É preciso listar? Não bastasse a crônica crise de segurança pública, o trânsito é complicado e a maior parte da população vive em comunidades onde a ausência do Estado é a característica básica... Todo esse contexto social frágil sob péssimos gestores públicos (Sérgio Cabral vem quebrar esse traço tão marcante das sociedades carioca e fluminense).

Dada essa realidade caótica, haja abstração para justificar a realização dos jogos panamericanos no Rio. É mais do que uma irresponsabilidade realizar um evento desse porte numa cidade como o Rio, com tantos e tão graves problemas sociais e urbanos. É imoral gastar-se quase R$ 5 bilhões para construir quadras de esgrima, pistas de hipismo e campos de beisebol (que não prestam) numa cidade onde recentemente houve – só pra ficar num exemplo – o colapso total do sistema público de saúde.

Temos cidades com condições ideais para realizar tais eventos, como Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis... Cidades que, inclusive, deveriam ser premiadas, com eventos assim, por sucessivas gestões competentes.

Não é o Pan que resolverá os problemas do Rio. Ele apenas os clamufará, abafará. Ou, pior – os explicitará. Alguém está surpreso com os superfaturamentos? E com a desorganização dos ingressos? E com as obras inacabadas? E com a panaquice de César Maia? Não era óbvio que tudo isso iria acontecer?


É de políticas públicas, como as recém anunciadas pelos governos federal e estadual, que o Rio precisa. Auto-estima e auto-imagem não se resolvem desse modo superficial – isso é como plástica em pessoas mal-resolvidas... resolve até a próxima ruga. “Amadurecimento” não se atinge de fora para dentro, mas sim por processo interno, de dentro para fora. No plano individual, seria como uma pessoa que se casa e se acha mais madura só por isso... Pan é perfumaria. E das caras.

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Acho relevante essa discussão. Num país de recursos escassos e problemas de sobra, nunca é demais discutir-se como são invertidos os recursos públicos. E com a candidatura dessa mesma cidade para as Olimpíadas e do país para a Copa do Mundo, refletir o Pan torna-se obrigatório. É interessante registrar, também, que essa talvez seja a primeira vez que eu e Diogo discordamos substancialmente.

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Para melhorar-se a auto-estima coletiva e nossa imagem lá fora, faz-se mais necessário medidas como as do Governo Federal de combate à corrupção. Temos repercussão dessa natureza lá fora: veja aqui.


Realizar eventos para os quais não temos condições, como esses jogos pan-americanos, apenas contribui para reações negativas, como essa matéria aqui.

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Para se ter uma idéia do que anda acontecendo por lá, veja o blog A verdade do Pan.

O editorial da Folha de São Paulo, do dia 15 de Julho, também está bem interessante.

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E, por fim, alguém ainda agüenta trocadalhos do carilho com o prefixo "pan"? Panta que o pariu!

terça-feira, 24 de julho de 2007

"Qual é a culpa de Lula? "


É interessante comparar o tratamento dado ao acidente da TAM pela imprensa brasileira e aquele dado pela estrangeira. Recebo o e-mail de uma amiga canadense, me contando que uma amiga sua austríaca disse-lhe que tinha-se mais informação sobre esse caso lá do que aqui. Outro amigo brasileiro, que mora na França, me envia um e-mail querendo saber o que tem Lula a ver com o acidente, já que nos jornais franceses essa associação jamais é feita. Na matéria da Economist da semana passada, a revista levante questionamentos estruturais – por exemplo, o fato de ser a Infraero uma empresa pública, e para o fato de sua governança ser dividida entre civis e militares.


Aí ontem à noite recebo uma dessas correntes, repassada por um tio meu. Lá, acusa-se Lula de ser “assassino em massa”. A cobertura da imprensa brasileira, com seu viés de sensacionalismo partidarizado, leva a esse tipo de reação. Cega-nos. A imprensa brasileira nunca fez a pergunta do título - essa foi a premissa em que basearam suas matérias.


É evidente que o Governo Lula tem uma parcela de responsabilidade – a qual ele chamou para si em sua fala à nação na última sexta. Mas é verdade também que seu governo herdou um modelo de gestão, moldado no governo FHC, esquisofrênico, com múltiplas instituições e agências e ainda dividido entre civis e militares.


Que essa tragédia não nos impeça de ver que o Brasil vai melhor do que muito de nós pensamos – como afirmou, inclusive, o editorial do diário argentino La Nación.

sábado, 21 de julho de 2007

Querem "venezuelizar" o Brasil, de novo


Essa tragédia da TAM deixou patente, mais ou vez, o duplo padrão praticado pelas grandes empresas de comunicação. Chama a atenção a rapidez com que os jornalões e as emissoras atribuíram a culpa ao Governo Federal. Por outro lado, o populismo barato da oposição em geral, e de José Serra em particular, tentando obter dividendos políticos às custas de 200 vidas perdidas, foi visto pelos colunistas e comentaristas como absolutamente normal...


Que a oposição busque fazer esse tipo de associação, é normal. Faz parte do jogo político, numa democracia, a disputa das versões. O problema é que a imprensa adote, tão facilmente, o discurso oposicionista. Não deixa margem a dúvida, agindo assim, de que sirva como porta-voz da oposição.


Não é preciso um exercício de imaginação para saber como seria caso fosse esse um governo tucano... Basta um exercício de memória. No ano passado, quando dos ataques do PCC, essas mesmas empresas que tão prontamente apontaram o dedão acusador para Lula, daquela vez foram extremamente cautelosos. É preciso não politizar o assunto, era o mantra repetido por todos... (exceto por mim, como se pode ver no que escrevi em maio de 2006).


Incrível o comportamente de dois pesos e duas medidas. Como explica Keith Olbermann, (que inveja! uma imprensa que se auto-critica!) jornalismo justo é aquele que tem padrões e os aplica indistintamente a todas as partes envolvidas. Infelizmente, estamos longe desse tipo de jornalismo.


Há, porém, como fugir a isso. O Valor Econômico tem tido uma cobertura sóbria, objetiva, equilibrada. Na blogosfera, o blog de Nassif é obrigatório para quem não suporta mais o sensacionalismo reinante. Lá, ele tem levantado questões pertinentes (por exemplo, aqui e aqui). O blog de Paulo Henrique Amorim é bem extremado, mas ao contrapor-se-lhe à grande imprensa, encontra-se o ponto de equilíbrio.


O fato é que esse acidente da TAM, ao que tudo indica, não tem nada a ver com o que provocou o da GOL ou com a questão dos atrasos – muito embora nossa imprensa tendenciosa e nossa classe-média semi-leitora intelectualmente preguiçosa, prefiram pôr tudo no mesmo balaio. Não está claro para mim que efeito tudo isso terá sobre o apoio popular ao Presidente Lula. A impressão que eu tenho é que se repetirá o que ocorreu nas outras ocasiões em que as grandes empresas jornalísticas se comportaram dessa forma, abertamente manipuladora e maniqueísta, como na "crise política" de 2005 ou nas eleições de 2006 – ou seja, reforçará as opiniões já existentes. Quem apóia Lula, continuará apoiando-o – talvez até mais enfaticamente, se constatar nova tentativa desestabilizadora. Por outro lado, quem se opõe ao governo, seguirá se opondo, só que mais fortemente. Ou seja, a nossa imprensa empresarial, irresponsável, ao enveredar pelo sensacionalismo partidário, contribui para acirrar os ânimos e polarizar o país – tudo o que Lula vem tentando evitar, com sua postura conciliatória. A nossa imprensa corporativa quer “venezualizar” o Brasil. Só que Lula não é Chávez. Sorte a nossa.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

PAN - PAN - PAN - PAN!!!
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Tenho sentido uma energia muito boa na cidade com relação aos Jogos. As pessoas do Rio estão animadas, participam, querem conhecer, ajudar, fazer bonito. Voluntários uniformizados desfilam orgulhosamente pela cidade, nos ônibus, metrôs, nas ruas. Jovens, idosos, crianças... todas as faixas etárias estão curtindo ser o palco esportivo das américas. Penso que, até agora, ser sede do PAN pode ser um amadurecimento para o povo carioca.
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O povo vaia sem saber o motivo. Deu pena... Mais os brasileiros presentes naquele Maracanã sexta-feira decepcionaram o mundo do esporte. Foi incoerente em todas as suas manifestações de vaias e em algumas de suas palmas. Vaiaram as delegações dos Estados Unidos, da Venezuela e da Bolívia. Vaiaram o presidente Lula. Aplaudiram Carlos Arthur Nuzmán. Num evento dessa natureza, não se vaia; o brasileiro vai aprender. Na premiação das equipes de ginástica a torcida esboçou uma vaia quando o time americano foi anunciado para o lugar mais alto do pódio. Laís Souza, ginasta brasileira, interveio aplaudindo e pedindo que o público a seguisse como exemplo. E todos seguiram com aplausos. Nossa torcida ainda é muito ingênua, mas vai amadurecer.
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Apesar de vaiado, o Governo Lula foi quem mais investiu para a realização dos Jogos. Há pouco tempo atrás a falta de sintonia entre os poderes deixou no colo do Governo Federal ônus de arcar com a maior fatia do bolo. O Governo do Estado não era aliado da Prefeitura, que não era aliada do Governo Federal que tampouco era aliado ao Governo do Estado. Após a eleição de Sérgio Cabral, as obras fluíram mais rapidamente e com mais tranquilidade por parte do Governo Federal para investir. No entanto, hoje na cidade já vemos vários outdoors sabe de quem? Da prefeitura... assumindo a paternidade de obras as quais ela, quando participou, o fez de forma acanhada quando comparada à participação dos outros Governos (Estadual e Federal). Filho bonito nunca deixará de ter pai. Lula cantou essa pedra há algum tempo...
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Acho legal ver o envolvimento dos atletas e dos torcedores. Como profissional da área, tenho a esperança de ver em breve o esporte sendo eficientemente usado como uma ferramenta de inclusão social. Um meio de ascenção social; uma forma de indiretamente reduzir gastos com saúde; um mecanismo de redução da violência e da ociosidade. Esporte como entretenimento, sim. Mas com visão social. Desta forma, toda a sociedade sai ganhando. O PAN é importante para elevar a figura do atleta, profissionais que carregam consigo a imagem da superação, da determinação, do respeito e da convivência com outras culturas para pessoas que precisam ter esses valores reforçados. É preciso apoiá-los.
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Sou do time que reconheço todas as falcatruas que houve na realização do PAN. Mas sou do time que acredita no pequeno legado físico deixado pelos Jogos (pequeno quando comparado com o alto valor investido), bem como aquele legado abstrato que mexe com valores de conduta do cidadão. Abaixo o PAN-demônio! Força para o PAN-Americano! Mas temos que enxergar o Esporte de forma mais séria, cobrar mudanças e leis mais fortes para sacudir a estrutura desportriva do país. Não podemos ter dirigentes eportivos intocados no poder por 15, 20, 30 anos. Não podemos ter verbas repassadas para Federações (Lei Piva) sem que fiscalizemos como e onde esses recursos são aplicados. Não podemos nos deixar levar pelo oba-oba provocado pelas emoções embutidas a uma disputa e esquecer que nesse intervalo de 4 anos entre Jogos esses atletas precisam se alimentar, treinar e sustentar a si e muitas vezes à sua família.
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Quando os dirigentes agirem responsavelmente o bastante investindo na base das modalidades, o desempenho dos atletas melhorará; com melhor desempenho dos atletas profissionais, maior a presença da iniciativa privada. Trata-se de um ciclo de investimentos.
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Nem tudo foram flores na abertura dos Jogos. Estive no Maracanã e achei uma bagunça lá dentro. ninguém respeitou as numerações das cadeiras. A turma brigava nas filas de cerveja. Inclusive, em alguns pontos não tinha mais cerveja. Não havia lixo, então os corredores internos do estádio ficaram imundos. A orquestra também foi playback! Todos eles fingiam quando chegava sua vez de "tocar". Eu estava bem atrá e vi. Fiquei numa área cujo ingresso valia somente R$ 250,00. O ingresso mais barato para esse evento era 150,00. Sinceramente, eu não pagaria 20,00 para assistir que eu vi. 50,00 seria caro.

domingo, 15 de julho de 2007

Vaia para quem vaiou

Vaiaram o Lula. Que coisa chata. Eu sei que democracia é isso, cada um diz o que quer, e é por isso que eu digo que tem certas coisas que não se faz.

Tem hora para tudo. Se o cara está chateado com a política brasileira (e tem todo o motivo para estar), o melhor protesto era não ter ido à abertura do Pan. Fazia um boicote ou se juntava a quem fazia protestos fora do Maracanã.

O Pan é fruto do esforço político brasileiro, coordenado e financiado pelo presidente da República. Quem nele vai, obrigatoriamente está concordando com isso, com a política de Lula. No mínimo, vaiar o Lula é incongruência. E falta de educação.

Postado por Álvaro Filho
no Futeblog

sábado, 14 de julho de 2007

Vaias para a classe-média brasileira



Eu não vi na TV. Fiquei sabendo pelo meu irmão, que estava lá no Maracanã. Mas fiquei muito triste com as vaias que o Presidente Lula recebeu. Como disse o próprio: é uma sacanagem.


Antes de tudo, foi desrespeitoso. Num evento, ainda que um tanto irrelevante (vamos lá, quem aí assistiu ao último Pan? Alguém lembra dele?), com certo apelo internacional, isso foi feio e foi mais – foi recalque. Preconceito de classe, sim. Se tivesse sido o Presidente Professor PhD, duvido que tivesse havido vaia. A platéia vaiou, ainda, as comitivas americana e venezuelana. Ou seja, a nossa classe-média ilustrada não sabe distinguir um evento esportivo-cultural de uma manifestação política (talvez porque não costumem frequentar nem um nem outro). Além de as vaias demonstrarem a ausência de qualquer coerência político-ideológica. Se as vaias denunciam alguém, não é o Presidente Lula: é a ignorância e má educação da classe-média brasileira.


Foi sacanagem também porque foi injusto. Porque vaiaram o Presidente Lula, mas aplaudiram Nuzman e César Maia. Ora, segundo a Caros Amigos, Nuzman é o principal responsável pelo superfaturamento das obras do PAN. Todas as concessões foram ganhas por amigos, parentes, sócios de Nuzman. O orçamento original, previsto em 400 milhões de reais – chegou quase aos 5 bilhões de reais. César Maia, um dos gestores públicos mais incompetentes do Brasil hoje, deveria ser grato ao apoio suprapartidário do Governo Lula ao evento. Mas notícias da Carta Capital ou da Caros Amigos nunca repercutem, não sei porquê (sarcasmo).


Cada vez que Lula aparecia no telão, a platéia vaiava. Exceto Diogo – ele se levantava a cada vez, aplaudindo e apoiando o nosso Presidente. Eu faria o mesmo e tenho orgulho que ele tenha agido assim. Na verdade, essa vaia é a expressão da classe média brasileira – Diogo explica que o preço mais barato para estar no evento era 150 reais. Por isso houve a vaia: não havia povão, povo mesmo. Essa vaia demonstrou o quão ignorante é a classe média brasileira, que se julga tão culta e auto-suficiente, e que obtém suas informações de muito poucas fontes de notícias e nem sequer as digere ou processa, engolindo tudo acriticamente. O nosso povo tem, repetidamente, demonstrado ser muito mais sábio e, principalmente, independente, do que a nossa classe média. E isso é muito bonito. O blog do Noblat, meio que na torcida, “analisa” que possa haver, a partir dessa vaia, uma “inflexão na popularidade” do Presidente Lula! Há! Pense numa “análise” enviesada, movida por puro “whishful-thinking”! Podem aguardar: é capaz de a popularidade do Presidente até subir nas próximas pesquisas; certamente não irá cair.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Percorremos um longo caminho, mas...

Nunca é demais ressaltar o mal que a ditadura causou ao Brasil. E em tantos e tão variados aspectos. Até hoje pagamos o preço disso. Apesar dos significativos avanços que o Brasil tem vivenciado desde a redemocratização, em meados da década de 80, é evidente que ainda temos um longo caminho até atingirmos o patamar das democracias maduras. Apenas pra não ficar numa nota derrotista - aliás, tão ao gosto do brasileiro... o velho "complexo de vira-lata" -, registro que os países atualmente desenvolvidos chegaram aos atuais níveis de bem-estar social à expensa de um regime democrático totalmente consolidado - o qual foi-se desenvolvendo à medida em que novos setores da sociedade atingiam certo padrão de vida que os permitissem exigir demandas de inclusão política. O inusitado da experiência brasileira é justamente estarmos realizando os dois processos - o desenvolvimento político e o econômico - concomitantemente.

Tendo dito isso, voltemos ao ponto que eu queria chegar. Dada a nossa pouca (20 anos) experiência democrática, é compreensível (embora não desejável) os excessos da nossa grande imprensa corporativa. Somando-se ao papel desproporcional que a TV desempenha num país como o nosso, onde a população (lato sensu) não lê, temos uma cultura jornalística ainda viciada por maus hábitos do passado recente. O jornalista e atual ministro Franklin Martins faz umas das melhores análises do atual comportamento da imprensa brasileira (recomendo, a quem se interessar pelo tema, a leitura de sua entrevista à Caros Amigos no ano passado; tenho a íntegra e envio pelo correio pra quem quiser!). Em suma, ele diz que as grandes empresas jornalísticas editorializaram a notícia, ao tentar "puxar a opinião pública pelo nariz". A imagem é forte e eficiente. O fato de não ter funcionado diz muito a respeito da capacidade analítica e independência de pensamento de amplos setores da sociedade brasileira. Mas ilustra também o atraso relativo da nossa imprensa...

A conseqüência direta da banalização de acusações, da generalização inquisitiva, da culpabilização antes mesmo do devido processo legal, do denuncismo seletivo - é a perda da credibilidade da imprensa. A grande imprensa fez por onde, para que notórios crápulas como Renan Calheiros possam dizer-se vítima de perseguição.

Não vejo isso como algo irremediavelmente mal... De jeito nenhum! Nossa imprensa melhorou muito de 20 anos pra cá! Apenas quero constatar que ainda tem um longo caminho a seguir... E saliento, ainda, a importância da notícia não-editorializada, equilibrada, sóbria. Num contexto desses, quando a acusação vem, lastreada por uma cobertura ilibada, ela tem muito mais força, eficiência, credibilidade. Para ilustrar o meu ponto, um jornalista americano, Obermann, da MSNBC (canal de notícias), recentemente pediu que Bush e Cheney renunciassem. Olha a diferença da imprensa nossa com a deles... a nossa em 3 anos queria de todos os modos derrubar o presidente. A deles, ao fim do segundo mandato, e com elementos irrefutáveis, defende - abertamente, não veladamente - a renúncia do presidente. Democracia madura é isso aí. Vejamos como funciona:



Pra quem quiser ver outro exemplo, veja aqui um interessante debate sobre a cobertura da imprensa americana do sistema de saúde do país.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Tudo não está tão mal

A visão que prevalece na classe média brasileira em relação ao Brasil atual tende a ser pessimista. A crer na sua análise, a situação é grave, não há saída à vista. Digo classe média porque, como aliás já escrevi aqui, os setores mais pobres fazem uma leitura diferente da realidade brasileira. Essa interpretação negativa carece de perspectiva histórica (quando vemos o Brasil de hoje e o comparamos com 200, 100, 50 ou 20 anos atrás, escolha-se livremente o corte) e perspectiva global (quando comparamos com os nossos vizinhos ou com outros de renda semelhante – Venezuela, Argentina, Rússia, Índia, dentre outros). Trata-se de uma visão bem restrita no tempo e no espaço.

Nao acredito em mudança da noite pro dia, ao menos nao em mudança sólida. Mudança é processo. Ademais, a história brasileira indica que nossa sociedade é avessa a rupturas abruptas. O Presidente Lula, muito sabiamente, e a despeito da sua suposta ignorância propalada pelos opositores, percebeu isso e, ao invés de uma postura confrontacionista, optou por uma posição conciliatória, tal qual Mandela na África do Sul e ao contrário do que faz Chávez em seu país. Percebo, no Governo Lula, com todos os seus percalços, o aprofundamento de um processo que começou lá nos anos 80 com a redemocratização.


Lembro que, em 2003, um professor meu na faculdade – Jorge Zaverucha – lamentava que o Governo Lula não fosse tão “de esquerda” quanto o também recém-inaugurado Governo Kirstchner. Passados cinco anos, gostaria de saber o que acha agora (provavelmente continua achando tudo ruim porque pessimismo é uma coisa viciante, além de ser explicação fácil para tudo). Mas, hoje, lá a inflação é crescente, o controle de preços está causando desabastecimento de alimentos e energético e o Presidente vai lançar sua esposa para sucedê-lo...


Precisamos nos valorizar enquanto sociedade, e reconhecer o quanto temos avançado, até pra termos consciência do quão longe podemos ir. Por incrível que pareça, a Veja (cuspi no chão) quase (quase!) acertou na sua capa dessa semana... se falasse da auto-estima coletiva.


Alguém ainda aguenta o discurso do "nada presta"(cujo arauto-mor é Arnaldo Jabor)? Jabor não está com nada, eu sou muito mais Gilmar! Um contraste gritante entre o senso-comum das nossas classes-médias é a visão de outras pessoas, vendo de fora e de longe:


* De um amigo canadense, ex-Banco Mundial, atualmente segue carreira acadêmica:

Bernardo: Yes, Brazil is doing well. Below is what an investment newsletter I subscribe to says in its latest issue (o relatório recomenda investimento de longo prazo no Brasil, dada a solidez de seu crescimento). (I wonder how the prognosis will be affected by the on-going correction in bond and equity markets and whether that portends a fundamental economic slowdown.) By the way, I am back from Israel , the so-called Holy Land . It was a wonderful experience. I hope to go back again for a longer visit. Best regards, Dan



* De um tio meu, empresário em Recife com negócios em Angola:

(...)

Acredito que estamos avançando, esta sujeira sempre existiu e que não apareça ninguém pra dizer que a bronca está circunscrita ao que está aparecendo, para nós da elite empresarial esta é a regra que vem prevalecendo no Brasil há anos, continuo um otimista incorrigível, vindo à tona as coisas tendem a se equilibrar, um dia vamos ter corrupção de 1º mundo, na economia já estamos quase lá..



* De um amigo meu de La Paz, formado em Economia e História, mestrando em Economia, em Barcelona:

bernardo, q tal hombre, oye solo queria decirte q me gusta mucho q me mandes estos artículos de crecimieto económico y de economía en general sobre brsail. me da la impresion q a difrencia del resto de los países de América Latina, Brasil no está crecieno exclusivamente sobre la venta de sus materias primas, lo q le da mayor sostenibilidad y calidad a su crecimiento.

bueno, hermano, cuidate